+55(11) 4208-2797

contato@odconsulting.com.br

As Exportações Brasileiras de Carnes e Produtos de Frango em 2022


O ano de 2022 foi favorável às exportações brasileiras de carne de frango e seus produtos, alcançando um total de 4.822.384 toneladas, um aumento de 4,61% em relação a 2021. O mais relevante foi o aumento de 27,39% no valor dessas exportações (US$ 9,762 bilhões) graças aos melhores preços médios obtidos que evoluíram de US$ 1.662 ptm em 2021 para US$ 2.024 ptm no ano que se encerrou.

O detalhamento da composição da exportações brasileiras de frango encontra-se na Tabela I.

Tabela I [1] e [2]*Inclui produtos enchidos de carne de frango como salsicha, linguiça, fiambre, mortadela etc. Não inclui operações de shipchandling (abastecimento a navios e aeronaves que somaram 5.768 kg e US$10.843 em 2022.

Na tabela II podemos observar a evolução percentual de cada uma das categorias. A maior evolução dos preço médio foi experimentada pelo frango inteiro, que foi a única categoria de produto a ter sofrido queda em volume, traduzindo a progressiva redução das importações da Arábia Saudita parcialmente compensadas pela posição que hoje os Emirados Árabes Unidos detêm como segundo maior destinatário em volume do frango brasileiro.

Tabela II   – Evolução Δ % por Categorias de 2022 sobre 2021                                   

Habitualmente começo o treinamento que já dei a executivos de empresas com uma apresentação intitulada “As coisas mudam” que conclui com a única verdade imutável e atemporal: “que a coisas continuarão mudando e cada vez com mais rapidez”. E o frango inteiro que substituiu o frango vivo é hoje substituído pelas partes de frango e essas o serão por elas mesmas nas apresentações que permitem ao consumidor prepará-las desde que saiba ligar um forno. Breve, o frango inteiro seguirá perdendo espaço, mesmo que ajudado por mazelas protecionistas.

A Tabela III demonstra o progressivo avanço dos cortes de frangos e o Gráfico I sintetiza o percentual de cada categoria de produtos sobre o total das exportações brasileiras nos anos de 2021 e 2022.

Tabela III – % por Categorias sobre o total exportado em 2021 e 2022                   

Os Gráficos I e II mostram o destino das exportações brasileiras por Regiões do Mundo, lideradas tanto em volume quanto em valor pela Ásia e seguidas pelo Oriente Médio. Nas estatísticas de organizações internacionais, os países do Oriente Médio são classificados como da Ásia, o que aumentaria a importância dessa região para não só as exportações de frango, mas como destino principal de todas as exportações do agronegócio brasileiro.

Gráfico I – Exports Volume                                                                                                                                                                                                                                                       Gráfico II – Exports Valor                                                                                                         

Dos 169 países que importaram carne de frango e seus produtos, os valores oscilam de um quase nada (US$ 10,00 – seguramente envio de amostra) aos US$ 1,35 bilhões (14,1% do valor total exportado) comprados pelo Planeta China, seguido pelos US$ 961 milhões do Japão, US$ 952 pelos E.A.U. e US$ 844 milhões pela Arábia Saudita que diminuiu compras de frango inteiro, mas segue sendo um dos maiores importadores de carne de frango e seus produtos.

Os gráficos de Pareto III e IV que seguem elencam os quinze maiores importadores em volume e em valor e confesso que tive que resistir à tentação de publicar a lista completa dos países importadores, seguindo o conselho de um editor de revista especializada no agronegócio, que já publicou alguns dos meus artigos, que disse que síntese representa mais leitores.

Gráfico III- Brasil – Volume das Exportações de Carne de Frango e seus Produtos (t) -2022 
Gráfico IV – Brasil – Valor das Exportações de Carne de Frango e seus Produtos (US$ 000 FOB) -2022

Observem nesses gráficos que somente dois países europeus se inserem entre os quinze maiores importadores de carne de frangos e seus produtos, a saber, Holanda (3,5% do volume e 4,9% do valor) e o Reino Unido do Brexit (2% do volume e 3,0% do valor)

Mesmo correndo o risco do excesso, listarei nos Gráficos V e VI os quinze principais importadores de frango inteiro, que conforme exposto na Tabela III acima representa um 20% do total de nossas exportações de carne de frango.

Gráfico V – Pareto – Brasil – Volume das Exportações de Frangos Inteiros (t) -2022
Gráfico VI– Pareto – Brasil – Valor das Exportações de Frangos Inteiros (US$ 000) -2022

Interessante observar a diminuição acentuada das importações sauditas de frango inteiro (cf. Gráfico VII), também sentida de forma menos acentuadas nos cortes de frango, o que explicam o recuo daquele país para o quarto lugar como destino do frango brasileiro.

Gráfico VII–Exports Frango inteiro p. Arabia Saudita (kt)                                          Gráfico VIII – Exports Cortes de Frango p. Arabia.Saudita (kt)                               

As partes ou cortes de frango dominam o consumo na maioria dos países e isso se traduz nas vendas brasileiras ao exterior, representando pouco menos de 70% (cf. Tabela III) do total das exportações de carne de frango. No Gráfico VIII listamos os quinze principais importadores desta categoria de produtos em tonelagem. Observem que desses quinze, sete deles estão na Ásia, quatro no Oriente Médio, dois na América Latina e dois na África.

Gráfico IX– Pareto – Brasil – Volume das Exportações de Partes ou Cortes de Frangos (t) -2022

Quanto ao valor das exportações de cortes/partes de frango os quinze principais importadores concentram 80,2% do total exportado, seis deles estando na Ásia, cinco no Oriente Médio, dois nas Américas e um na África

Gráfico XI– Pareto – Brasil – Valor das Exportações de Partes ou Cortes de Frangos (US$ 000) -2022 

Observem que nas categorias de produtos até agora apresentados (frango inteiro e em partes) não há países europeus. Estes dominam completamente a categoria de carnes salgadas, liderados pela Holanda que mais uma vez confirma sua condição de plataforma do comércio internacional europeu. Junto com o Reino Unido e a Alemanha esses três países respondem por 96,4% do volume de carne de frango salgada (cf. Gráfico XII) e 88,9% do valor exportado nessa categoria.

Gráfico XII – Pareto – Brasil – 11 Principais Importadores em Volume de Carnes Salgadas de Frangos (t) -2022 
Gráfico XIII – Pareto – Brasil – 11 Principais Importadores em Valor de Carnes Salgadas de Frangos (US$ 000) -2022 

Cinco países europeus figuram entre os principais clientes brasileiros dos produtos industrializados de carne de frango, três da América do Sul, outros tantos do Oriente Médio, dois da África e dois da Ásia. É interessante observar que Grã-Bretanha e Holanda são o destino para quase 60% do volume e 66% do valor das vendas externas brasileiras de produtos industrializados.

Gráfico XIV- Brasil – Quinze Principais Importadores de Produtos Industrializados de Frango – Volume (kt) 
Gráfico XV- Brasil -Quinze Principais Importadores de Produtos Industrializados de Frango – Valor (US$000) 

Breve, 2022 foi um bom ano para as exportações brasileiras de frango e o país consolida sua posição como segundo maior produtor mundial e primeiro exportador mundial de carne de frangos. Para o ano de 2023 os prognósticos de diferentes fontes internacionais situam o crescimento das exportações brasileiras entre um mínimo de 2,7% e um máximo generoso de 6%. Endossarei a máxima latina do “virtus in medium est” (a virtude está no meio).

Em várias ocasiões afirmei que o Brasil é uma potência do agronegócio mundial situada num país que não conta internacionalmente, e contra o qual é possível exercer protecionismos descarados com a garantia que o país não tem como retaliar. E doces em política internacional são sempre reservados a aqueles que não se comportam e que podem jogar pedras, sobretudo em sua versão atual atômica.

Entretanto, o país em 2022 exportou carne de frango para 169 países e fechar as portas desses mercados teria reflexos severos nos preços e no abastecimento internacionais, já que o Brasil responde por algo acima dos 30% das exportações mundiais de carnes e produtos de frango.

Tal não exime este país de grandes preocupações e cuidados com os episódios de HPAI que grassam no mundo e chegaram a países vizinhos da América do Sul, seis dos quais fazem fronteira com o Brasil (Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru, Venezuela e Uruguai).

Os cuidados se renovam, nossa associação, a ABPA (Associação Brasileira da Proteína Animal) mobiliza o setor e a ciência avícola brasileira para aumentar os níveis de prevenção, cuidados e biossegurança. Ocorrem neste momento várias conferências organizadas por diferentes entidades científicas sobre biossegurança, sobre a HPAI e avanços em prevenção e contenção de episódios.

Mesmo assim os riscos são elevados que a doença alcance o Brasil. Os protecionistas, mormente a União Europeia que sofre de Alzheimer seletiva, olvidarão a sua coleção de episódios e com horror agitarão as bandeiras de alerta clamando ser o Brasil a raiz de todos os males. Já aprendemos com a matriz energética deles que a máxima secular do “façam o que eu digo, não o que eu faço” segue eternamente nova.

Entretanto, muitos serão os países que não arriscarão comprometer seu abastecimento e adotarão as medidas de resguardo cientificamente recomendadas, mas manterão o fluxo de compras a partir de regiões e compartimentos brasileiros não afetados pela doença. Temos razões para nos preocuparmos, mas se temos um mérito no agronegócio deste pobre rico país é que somos resilientes.

Em janeiro de 2023 as exportações brasileiras de carne de frango (considerando todos os produtos, tanto in natura e quanto processados) totalizaram 420,9 mil toneladas, informa a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O número é recorde para o mês e supera em 20,6% o total exportado no primeiro mês de 2022, com 349,1 mil toneladas. O resultado em dólares das exportações do mês chegou a US$ 856,6 milhões, número 38,9% superior ao alcançado no mesmo período do ano.

Mesmo assim não é com tranquilidade que encaramos os prognósticos para 2023 pois todo o histórico de surtos de HPAI demonstram que a propagação da doença para países limítrofes ocorre inevitavelmente. Esperamos estar errados, mas fatos e dados indicam que essa afirmação é mais um desejo do que uma realidade.

 

[1] Os valores expostos neste artigo têm como fonte a ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal. O observador mais atento verificará que em raras ocasiões registram-se diferença mínimas e de pronto esclareço: mea culpa, mea maxima culpa

[2] C:\Users\User\Dropbox\A Documents\A Documents\Dados\aPaises\Brasil\Frango\Export-Import\2022\Síntese export frango análise.xlsx

[3] idem

[4] idem

[5] C:\Users\User\Dropbox\A Documents\A Documents\Dados\aPaises\Brasil\Export Import\2022\IMPORTADORES DE FRANGO BRASILEIRO.xlsx

[6] Elaborados por ODConsulting com dados gentilmente fornecidos pela ABPA

[7] Idem 7 e 6

[8] C:\Users\User\Dropbox\A Documents\A Documents\Dados\aPaises\Brasil\Export Import\2022\Tonelagem – Brazilian Chicken Exports to KSA (Frango Inteiro e Partes de frango)10 years (-).xlsx

Osler Desouzart

Atualmente membro da Diretoria Consultiva do World Agricultural Forum. Membro da equipe do The Sustainable Food Laboratory. Proprietário da companhia de consultoria, OD Consulting Planejamento + Estratégia.