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O Segmento Mundial de Pescados em 2020


Em 2020, a produção mundial de pescados[1] e algas alcançou 214 milhões de toneladas, sendo 177,8 milhões de animais aquáticos e 36 milhões de algas, sendo que 97% das algas foram de aquicultura, majoritariamente marinha.

A produção em milhões de toneladas da pesca de captura foi de 90,3 MM e a de aquicultura de 87,5 MM. Cerca de 157 milhões de toneladas de animais aquáticos foram usados para consumo humano. E em termos per capita a quantidade destinada ao consumo humano foi de 20,2 kg/capita/ano, mais que o dobro da média de 9,1 kg/capita/ano em 1961.

Tabela I                                                                                                                                             

A pandemia de COVID19 afetou os resultados dos anos de 2019. O impacto maior da pandemia e da retração econômica consequente[1] foi particularmente sentido em 2020, tanto em consumo per capita quanto no volume (-10,5%) e valor (-8,4%) das exportações mundiais. Mesmo nessas condições únicas na história do mundo, pescados continuaram a ser o item de alimentação humana mais comercializado globalmente, com 225 países e territórios informando alguma atividade de comércio internacional de pescados de captura e de aquicultura.

A expansão da produção de pescados em 1950 alcançava cerca de 19 milhões de toneladas e avançou aos 177,8 MM de 2020. A aquicultura tem sido o motor desse crescimento desde o final de 1980 e, do total produzido em 2020, 50,8% (90,3 MM) foram de captura e 49,2% (87,5 MM) de aquicultura. Isso representa muito, pois a atividade aquícola alcançava 4% nos anos 50, 5% nos 70, 20% na década de 90 e 44% no decênio 2010.

O progresso da aquicultura nas últimas décadas aumentou a participação das águas internas ou interiores na produção total, passando de 12% do total de pescados de captura e aquícolas, 18% nos anos 1990, 28% na década de 2000 e 34% no decênio 2010.

Apesar desse progresso, a pesca de captura em águas marinhas ainda respondeu por 44% da produção total de peixes e frutos do mar em 2020, comparado com os 87% que detinha no período de 1950-1980.  A captura ainda é o método predominante na produção de várias espécies.

 

Na tabela II estão os 15 principais países produtores de pesca de captura marinha. Na captura marinha, Peru e Chile figuram entre os principais graças à produção por captura da anchoveta peruana (Engraulis ringens), espécie que vive na zona sudeste do oceano Pacífico, frente à costa daqueles dois países. Esta espécie, mais a sardinha-do-pacífico (Sardinops sagax) e cavala-do-pacífico (Trachurus symmetricus) sofrem altas oscilações devido ao El Ninõ e a variações nas condições oceanográficas.

Esses fatores e mais os impactos da pandemia e suas restrições em 2019 e 2020, somados à redução planejada das capturas chinesas têm como consequência as reduções das capturas marinhas a partir de 2018.

Em 2020, os países asiáticos foram os principais produtores de animais aquáticos com 70% do total da produção total de captura e aquicultura, sendo que cinco deles responderam por 58% daquele total, a saber: China (35%), Índia (8%), Indonésia (7%), Vietnam (5%) e Peru (3%).

Ainda que a China mantenha sua posição de principal produtor de capturas marinhas, sua produção caiu de 14,4 MM t em 2015 para 11,8 MM t em 2020, uma queda de 18,2%. Essa redução está prevista nos XIV e XV Planos Quinquenais do país e devem se estender além do atual de 2021-2025.

Tabela II – Principais Países Produtores em Capturas Marinhas                           

A tabela III apresenta os maiores produtores em águas interiores. Os cinco principais produtores – Índia, China, Bangladesh, Mianmar e Uganda – responderam por 51,6% da produção total de 11,5 MM t, uma queda de 5,1% em relação a 2019. Naturalmente a pandemia contribuiu com algo, mas a redução principal se deveu à China, cujas capturas em águas interiores caiu 33% em relação as 2,18 MM t de 1917, parte devido a um defeso de 10 anos nas capturas no Rio Yangtzé.

Há uma grande dificuldade no registro de capturas em águas interiores, notadamente onde o peixe é componente fundamental das dietas regionais – em particular, Camboja, Brasil, Vietnã e Tailândia. As populações ribeirinhas consomem de imediato o que capturam e é fácil entender que as estruturas do estado não cobrem grande parte dessa produção.

Tabela III – Principais Países Produtores em Capturas em Águas Interiores     
Tabela IV – PRODUÇÃO MARINHA DE CAPTURA:PRINCIPAIS ESPÉCI                               ES 

AQUICULTURA

A produção aquícola total compreendeu 87,5 milhões de toneladas de animais aquáticos principalmente para uso em alimentação humana, 35,1 milhões de toneladas de algas para fins alimentares e não alimentares, 700 toneladas de conchas e pérolas para uso ornamental, atingindo um total de 122,6 milhões de toneladas em peso vivo em 2020.

Entre 1990 e 2020, a aquicultura cresceu 609% na produção aquícola mundial. Na Tabela V visualiza-se a evolução dessa produção, à qual somaríamos 700 toneladas de conchas ornamentais e pérolas.

A produção de algas experimentou grande crescimento na Ásia, que hoje concentra 97% do total mundial. A China lidera a produção com 58%, seguida pela Indonésia com 27% e a Coreia do Sul com 5%.

Tabela V – PRODUÇÃO E CRESCIMENTO DA AQUICULTURA MUNDIAL         

A Tabela VI apresenta as principais espécies cultivadas nas águas interiores e nas águas marinhas e costeiras.

Observem que as tilápias (Oreochromis niloticus + Oreochromis spp.) somam uma produção total 5.477 kt, sendo a segunda espécie mais cultivada em águas interiores, sem olvidar que 107 kt são produzidas em águas marítimas e costeiras. A preferida do consumidor brasileiro por essa espécie não é única. Assinalo também a produção de panga, 5,1% do total em águas interiores, e que possui boa aceitação do consumidor brasileiro, sendo que já está sendo cultivada na aquicultura brasileira.

Tabela VI – Aquicultura – Principais espécies produzida                                                     

A Tabela VII mostra o quem é quem na aquicultura em 2020 e o crescimento percentual dos continentes e países selecionados em relação a 2010. A Ásia domina a aquicultura de animais aquáticos e algas e, em 2020, o continente respondeu por 91,61% do total mundial. Esse domínio é quase total em relação às algas, já que detêm 99,54% da produção mundial atual.

A locomotiva da aquicultura das Américas é o Chile, mas notem o expressivo crescimento de 96,96% dos “demais países da América Latina e Caribe” na década ora examinada.

Tabela VII – PRODUÇÃO MUNDIAL DE AQUICULTURA POR REGIÃO E PRINCIPAIS PRODUTORES SELECIONADOS

Chama a atenção a discrição da expansão da aquicultura chinesa nesta última década (+ 39,7%), o que faz com que sua participação no total da aquicultura mundial caia de 67,08% para 62,77%. Tal em absoluto inibe sua liderança com a sua produção 70,7 milhões de toneladas em 2020.

O Gráfico I mostra que África e as Américas registraram um crescimento percentual acima da média mundial no período 2020 sobre 2010. O Gráfico II registra dito crescimento em países selecionados e aí surge a explosão da Índia, Indonésia e Chile, todos os três países com aumentos que superam o dobro da média mundial. Notáveis os aumentos dos demais países da América Latina, Bangladesh, que já me surpreenderam em frangos e agora o fazem em aquicultura, além de Egito e Vietnam. No extremo oposto está o crescimento da aquicultura na EU-27 e a retração experimentada pela América do Norte.

Gráfico I e Gráfico II – Crescimento % da Produção Aquícola Δ 2020/2010 por Continentes e Países Selecionados                                            

O fascinante mundo do pescado não cessa de surpreender e há muito ainda para se saber e estudar. Entretanto, é possível formar uma convicção de que o pescado, impulsionado pela aquicultura, será um dos pilares da proteína animal na alimentação mundial e que, no caso do Brasil, os peixes de aquicultura e a suinocultura serão os drivers do crescimento na próxima década.

 

 

 

[1] O impacto foi também severo em termos de registros e comunicações de dados dos diferentes países refletem-se em 2020 e 2021. Se 2022 já registra amenização da pandemia e retomada da atividade econômica, creio que em termos de dados a volta à normalidade ainda tardará.

[1] O pescado reúne todos os peixes, crustáceos (camarões), moluscos (ostras e mexilhões), anfíbios (rãs), répteis (jacaré e tartarugas), equinodermos (ouriços e pepinos-do-mar) e outros animais aquáticos usados na alimentação humana. As tabelas e gráficos deste artigo não incluirão répteis,  anfíbios, mamíferos aquáticos, crocodilos, jacarés.

Osler Desouzart

Atualmente membro da Diretoria Consultiva do World Agricultural Forum. Membro da equipe do The Sustainable Food Laboratory. Proprietário da companhia de consultoria, OD Consulting Planejamento + Estratégia.